Recomeço
A vida é a arte do encontro, embora haja tanto desencontro pela vida.
Não sei se acredito mais nisso. Não sei se já tenha acreditado realmente.
Se acreditei foi porque… não sei por quê.
E o encontro se deu no não-saber.
Do não-saber persistido nasceu o desencontro.
Há que se manter sonhando com a coisa sonhada
que é plana e não se pode andar em roda dela
e ver-lhe os defeitos
e botar-lhe a decomposição da realidade sobre a cara
e fazê-la diferente por tê-la feito saber da própria existência
desfazendo-a.
Apesar de eu ter escrito isso aí em cima, foi Pessoa quem falou num trecho lá do Livro do Desassossego sobre essas coisas (e de onde eu roubei as idéias). E são bem verdades.
Se eu tivesse não só lido como também ouvido a frase dita? E se tivesse visto deveras os olhos com que diria aquelas palavras, e talvez um leve sorriso? Aquele sorriso que deixa os olhos ainda mais lindos. E se tivesse realmente sentido o tom da voz, forte e delicado, e percebido seus gestos, meigos?
E pior. Se eu tivesse respondido, por menor que tivesse sido a resposta, e por nenhum silêncio do mundo ser vazio, mas o contrário? E se fossem palavras toscas, uma tentativa rota de piada sem graça?
Que venham os desencontros.