Meu parecer sobre o parecer
Quando era pequeno
pensava perceber as coisas.
Mais tarde, ponderei pois
para que pudesse prover parecer melhor.
Não me pus a encontrar de prontidão
solução pronta, nem processo
aprimorado que apadrinhasse
meus pensamentos tão pequenos.
Pois bem, percebi
que percepção mesmo
minha pessoa não podia aproveitar
se não a particularidade
proveniente de minhas peculiaridades.
Arredei pé: pensativo
fui por outro meio, paliativo.
Me engendrei a praticar poesia.
Pisei em falso, passei apuro,
dancei pesado,
mas aprendi o passo.
Nada que possas pensar
parecer perfeito.
Sai pra lá.
Na verdade, só aprumei o piso,
por onde os outros olhos passam.
Assim posterguei a penosa realidade.
Se sou palhaço? Qual o problema?
Talvez picareta? Então prove!
Pode perguntar a qualquer pessoa:
A expressão é de pedinte,
o passo é lasso,
mas o coração não pára!
Enfim, parecer pode até parecer
Parecer pode também perecer
Agora o parecer é profundo:
Parecendo algo
Perece o outro.
Parecendo o outro
Perde-se o algo.
Que proeza pródiga,
melhor do que parecer,
é poder estar próximo do próprio ser
e ao mesmo tempo podê-lo pensar
pelo simples fato de sê-lo!
Tanto quanto promíscuo
é a premissa do parecer autoritário
é também o perceber apenas um dos pareceres.
Deixa que a percepção se engane,
por mais próxima ela esteja.
Mas não deixa aparecer
a crueza do pensamento
na frieza de pedra,
imperceptível poeira
que mais cotidiana impossível.
Senão é a mesma pobreza
de pedir permissão
pra um beijo espoleta.